Três razões por que tememos a Inteligência Artificial.
Toda novidade representa o desconhecido, o escuro, o não-saber, o risco. Estes são os principais estímulos que ativam a emoção do medo. Mas quando falamos de I.A existem reflexões interessantes por trás desse medo. Neste artigo cito três delas.
A primeira reflexão gira em torno do fator cultural.
O medo do desconhecido se agrava quando vivemos em uma sociedade em que somos ensinados a temer também o novo, o diverso. Qualquer coisa que saia minimamente do padrão, fuja a algum costume ou tradição nos causa ansiedade, até mesmo aversão. Assim, vamos sendo capazes de inventar boas teorias para negar ou evitar mudanças em vez de nos abrirmos para aprender um novo jeito de bem viver com elas.
A segunda reflexão é sobre a especulação
dos impactos sociais e psíquicos que a Inteligência Artificial pode nos causar. O que os chatbots e as realidades virtuais nos oferecem parece ser uma vida falsa, irreal, etérea. Há quem diga que vamos todos nos tornar zumbis com o excesso de consumo das I.As e sua invasão em nosso cotidiano. Não duvido. Mas provoco:
será que esta não é apenas aquela mesma fantasia que nos faz ver monstros no escuro?
O contato com o novo é alimento para nossa criatividade. Mas quando um dos elementos do nosso processo criativo é o medo e a ansiedade, as imagens que criamos tendem a ser tenebrosas mesmo (talvez este seja um dos exemplos mais didáticos para você compreender a relação entre criatividade e emoções). É o que acontece quando crianças encaram o escuro: o medo e a insegurança as faz imaginar monstros cruéis.
Mas a terceira análise é a minha preferida:
Lembremo-nos que a desumanização de nossas relações não é consequência da invasão das máquinas, das telas, das redes sociais, mas sim de um modus-operandi que valoriza mais a lógica do que nossas emoções.
Desde o iluminismo, desenvolvemos uma obsessão pelo pensar em detrimento do sentir e caímos na ilusão da separatividade – hierarquizando nossas funções psíquicas como se uma valesse mais que a outra. Agora parece que o feitiço virou contra o feiticeiro – se me permitem uma expressão lúdica para fins didáticos.
Refiro-me ao seguinte: se por séculos deixamos prevalecer nossa capacidade intelectual e racional e ignoramos nossa sensibilidade, o avanço da inteligência artificial nos amedrontará profundamente, claro!
Afinal, o sistema lógico, binário, matemático é justamente o que as máquinas dominam. Por isso existe o medo de que elas nos coloque em extinção de uma vez por todas. Porque essa também é nossa capacidade melhor desenvolvida, ora.
Todavia, desde que a gente se lembre que não somos só razão mas também emoção, e desde cuidemos dessa nossa sensibilidade, talvez estejamos diante de uma era em que entenderemos finalmente o que nos faz essencialmente humanos.
Não seria incrível convivermos com as máquinas resolvendo as questões mais operacionais, lógicas e sistemáticas enquanto nos sobrasse mais tempo para nossas relações e os cuidados afetivos?
[Aqui cabe um parênteses sobre a capacidade criativa das máquinas e sua produção de “arte” – já tem um artigo aqui sobre isso mas trarei outro mais específico em breve.]
Portanto, diante do ritmo exponencial de avanço das I.As, cabe a nós nos esforçarmos para diminuir o prejuízo do tempo perdido e finalmente considerarmos nossa saúde mental, emocional, psíquica e espiritual como merecedoras de nossa atenção, pesquisa, interesse e cuidado.